Olá,
Sou a Camila Santana (atriz) e graduanda na Licenciatura de Artes e suas Tecnologias, pela Universidade Federal do Sul da Bahia- UFSB.
O tema deste projeto é "Essência... Vida-morte-vida e memória".
A Comunidade pesquisada a ser inserida nos experimentos será a comunidade dos lobos.
O projeto tem como ponto de partida as seguintes questões:
1- Como a essência permanece viva diante dos espaços dentro das comunidades?
2- Através de que mecanismos e formas de vida-morte-vida é possível revelar o espectro do que que é selvagem em nós e que a memória ama?
3- Aonde é possível transportar-se quando somos essência, memória, amor e paixões em movimento?
Como a trepadeira que cerca o tronco da árvore, a lei tem uma única medida;
A força da alcatéia é o lobo, e a força do lobo é a alcatéia.
Lave-se diariamente da ponta do focinho a ponta da calda; beba profundamente, mas nunca demais;
E se lembre que a noite é para caçar e não se esqueça que o dia é para dormir.
O chacal pode seguir o tigre, mas, filhote, quando seus bigodes forem crescidos,
Lembre-se que o lobo é um caçador - vá na frente e pegue sua própria comida.
Mantenha a paz dentre os senhores da selva, o tigre, a pantera, o urso;
E não perturbe Hathi, o Silencioso, e não perturbe o javali em seu ninho.
Quando alcatéia encontra alcatéia na selva, e nenhum dos bandos saí do caminho,
Abaixe-se até que os líderes falem; podem ser palavras justas e devem prevalecer.
Quando lutar com um lobo do grupo você deve lutar só e justamente,
Deixe outros tomarem parte na luta e a alcatéia se extingue pela guerra.
O ninho do lobo é seu refúgio, e onde ele fez seu lar,
Nem mesmo o Grão-Lobo pode entrar, nem mesmo o conselho pode vir.
O ninho do lobo é seu refúgio, mas onde ele o cavou desprotegido,
O conselho deve enviar-lhe uma mensagem, e então ele deve mudá-lo novamente.
Se matar antes da meia-noite seja silencioso e não acorde a floresta com seu uivo,
Se espantar os veados do mato seus irmãos ficam sem caça.
Podem matar para si mesmos, e suas companheiras, e seus filhotes como eles necessitam,
Mas não mate pelo prazer da matança, e sete vezes nunca mate um homem.
Se pilhar sua caça de um fraco, não devore tudo em sua honra,
O Direito da Alcatéia é o direito do inferior; então deixe-lhe a cabeça e a carcaça.
A caça da alcatéia é a carne da alcatéia. Você deve comer onde ela caí;
E ninguém deve carregar dessa carne ao seu ninho, ou ele morre.
A caça do lobo é a carne do lobo. Ele pode fazer o que entender,
Mas, até que ele dê permissão, a alcatéia não come daquela caça.
O Direito do Ninho é o direito da mãe. Durante todos seus anos ela pode reclamá-lo
Um pedaço de cada caça para sua ninhada, e ninguém pode negá-la isso.
O Direito do Filhote é o direito dos pequenos. De toda a alcatéia ele pode reclamá-lo
Gozo da caça quando o caçador tiver comido; e ninguém pode negar-lhe isso.
O Direito da Caverna é o direito do pai, de caçar para ele mesmo e só;
Ele é livre de qualquer chamado da alcatéia. Ele é julgado pelo conselho a sós.
Por conta de sua idade e sua astúcia, por conta de seu domínio e de sua pata,
Em tudo que a lei deixa em aberto a palavra do Grão-Lobo é lei.
Agora estas são as leis da selva, e muitas e poderosas elas são;
Mas a cabeça e o topo da lei e sua diretriz e estrutura é - Obedeça!
Um dos primeiros contos que tem inspirado e norteado o projeto chama-se "Vasalisa" do livro "Mulheres que correm com Lobos da Clarissa Pinkola Estés.
Vasalisa
Um outro conto da mesma autora que também norteará esse projeto, chama-se "La Loba, a Mulher Lobo".
Ela se arrasta sorrateira e esquadrinha as montanhas e os arroyos, leitos secos de rios, à procura de ossos de lobos e, quando consegue reunir um esqueleto inteiro, quando o último osso está no lugar e a bela escultura branca da criatura está disposta à sua frente, ela senta junto ao fogo e pensa na canção que irá cantar.
Quando se decide, ela se levanta e aproxima-se da criatura, ergue seus braços sobre o esqueleto e começa a cantar. É aí que os ossos das costelas e das pernas do lobo começam a se forrar de carne, e que a criatura começa a se cobrir de pêlos. La Loba canta um pouco mais, e uma proporção maior da criatura ganha vida. Seu rabo forma uma curva para cima, forte e desgrenhado.
La Loba canta mais, e a criatura-lobo começa a respirar.
E La Loba ainda canta, com tanta intensidade que o chão do deserto estremece, e enquanto canta, o lobo abre os olhos, dá um salto e sai correndo pelo desfiladeiro.
Em algum ponto da corrida, quer pela velocidade, por atravessar um rio respingando água, quer pela incidência de um raio de sol ou de luar sobre seu flanco, o lobo de repente é transformado numa mulher que ri e corre livre na direção do horizonte.
Por isso, diz-se que, se você estiver perambulando pelo deserto, por volta do pôr-do-sol, e quem sabe esteja um pouco perdido, cansado, sem dúvida você tem sorte, porque La Loba pode simpatizar com você e lhe ensinar algo — algo da alma.
Em memória Judith Ferreira
Do café que mãe fazia
Eu me lembro...
Das histórias contadas nas noites iluminadas pelos candeeiros,
do cheiro do querosene
das sombras de minhas mãos na parede. ...
- faz mal fazer sombra Cambito.
De pai embrenhado roça a dentro, plantando e colhendo o que comer e o que repartir com quem chegasse, ele é farturento.
Da força, coragem e valentia de mãe enfrentando sua sina desde os tempos de menina contada por ela nos causos onde meu palco era sua cama...o canto do lado dela era meu mundo.
Do medo que sempre tive de perdê-los ou que eles descessem cedo na estação para seguir viagem em outro plano,
e das tantas vezes que chorei engolindo a dor pra que eles não vissem.
do quanto eu os amei.
Ah! Como eu os amei e amo!
Do amor para além desta vida
Da falta dela
Da vida que há nele seguindo adiante
Dos sorrisos e cantigas que apeteciam a alma dela
Das memórias de vida que brotam feito cachoeira nos zóios miúdos de pai
De nós três em algum canto ouvindo os pios da mata
Eu me lembro...
Diário de Bordo de uma neta que é filha apaixonada.
01h10min.22 Jul/2017.
Camacã,BA
Ativando a memória a partir de suas histórias e do outro.
Sou a Camila Santana (atriz) e graduanda na Licenciatura de Artes e suas Tecnologias, pela Universidade Federal do Sul da Bahia- UFSB.
O tema deste projeto é "Essência... Vida-morte-vida e memória".
A Comunidade pesquisada a ser inserida nos experimentos será a comunidade dos lobos.
O projeto tem como ponto de partida as seguintes questões:
1- Como a essência permanece viva diante dos espaços dentro das comunidades?
2- Através de que mecanismos e formas de vida-morte-vida é possível revelar o espectro do que que é selvagem em nós e que a memória ama?
3- Aonde é possível transportar-se quando somos essência, memória, amor e paixões em movimento?
A Lei para os Lobos
Rudyard Kipling (1865–1936)
Rudyard Kipling (1865–1936)
Eis a lei da selva, tão antiga e verdadeira quanto o céu,
O lobo que a mantiver pode prosperar, mas o lobo que a quebrar deve morrer.
O lobo que a mantiver pode prosperar, mas o lobo que a quebrar deve morrer.
Como a trepadeira que cerca o tronco da árvore, a lei tem uma única medida;
A força da alcatéia é o lobo, e a força do lobo é a alcatéia.
Lave-se diariamente da ponta do focinho a ponta da calda; beba profundamente, mas nunca demais;
E se lembre que a noite é para caçar e não se esqueça que o dia é para dormir.
O chacal pode seguir o tigre, mas, filhote, quando seus bigodes forem crescidos,
Lembre-se que o lobo é um caçador - vá na frente e pegue sua própria comida.
Mantenha a paz dentre os senhores da selva, o tigre, a pantera, o urso;
E não perturbe Hathi, o Silencioso, e não perturbe o javali em seu ninho.
Quando alcatéia encontra alcatéia na selva, e nenhum dos bandos saí do caminho,
Abaixe-se até que os líderes falem; podem ser palavras justas e devem prevalecer.
Quando lutar com um lobo do grupo você deve lutar só e justamente,
Deixe outros tomarem parte na luta e a alcatéia se extingue pela guerra.
O ninho do lobo é seu refúgio, e onde ele fez seu lar,
Nem mesmo o Grão-Lobo pode entrar, nem mesmo o conselho pode vir.
O ninho do lobo é seu refúgio, mas onde ele o cavou desprotegido,
O conselho deve enviar-lhe uma mensagem, e então ele deve mudá-lo novamente.
Se matar antes da meia-noite seja silencioso e não acorde a floresta com seu uivo,
Se espantar os veados do mato seus irmãos ficam sem caça.
Podem matar para si mesmos, e suas companheiras, e seus filhotes como eles necessitam,
Mas não mate pelo prazer da matança, e sete vezes nunca mate um homem.
Se pilhar sua caça de um fraco, não devore tudo em sua honra,
O Direito da Alcatéia é o direito do inferior; então deixe-lhe a cabeça e a carcaça.
A caça da alcatéia é a carne da alcatéia. Você deve comer onde ela caí;
E ninguém deve carregar dessa carne ao seu ninho, ou ele morre.
A caça do lobo é a carne do lobo. Ele pode fazer o que entender,
Mas, até que ele dê permissão, a alcatéia não come daquela caça.
O Direito do Ninho é o direito da mãe. Durante todos seus anos ela pode reclamá-lo
Um pedaço de cada caça para sua ninhada, e ninguém pode negá-la isso.
O Direito do Filhote é o direito dos pequenos. De toda a alcatéia ele pode reclamá-lo
Gozo da caça quando o caçador tiver comido; e ninguém pode negar-lhe isso.
O Direito da Caverna é o direito do pai, de caçar para ele mesmo e só;
Ele é livre de qualquer chamado da alcatéia. Ele é julgado pelo conselho a sós.
Por conta de sua idade e sua astúcia, por conta de seu domínio e de sua pata,
Em tudo que a lei deixa em aberto a palavra do Grão-Lobo é lei.
Agora estas são as leis da selva, e muitas e poderosas elas são;
Mas a cabeça e o topo da lei e sua diretriz e estrutura é - Obedeça!
Devendra Banhart Hey Mama Wolf
Vasalisa
Era uma vez, e não era uma vez, uma jovem mãe que jazia no seu leito de morte, com o rosto pálido como as rosas brancas de cera na sacristia da igreja dali de perto. Sua filhinha e seu marido estavam sentados aos pés da sua velha cama de madeira e oravam para que Deus a conduzisse em segurança até o outro mundo.
A mãe moribunda chamou Vasalisa, e a criança de botas vermelhas e avental branco ajoelhou-se ao lado da mãe.
— Essa boneca é para você, meu amor — sussurrou a mãe, e da coberta felpuda
ela tirou uma bonequinha minúscula que, como a própria Vasalisa, usava botas vermelhas, avental branco, saia preta e colete todo bordado com linha colorida.
— Estas são as minhas últimas palavras, querida — disse a mãe. — Se você se perder ou precisar de ajuda, pergunte à boneca o que fazer. Você receberá ajuda. Guarde sempre a boneca. Não fale a ninguém sobre ela. Dê-lhe de comer quando ela estiver com fome. Essa é a minha promessa de mãe para você, minha bênção, querida. — E, com essas palavras, a respiração da mãe mergulhou nas profundezas do seu corpo, onde recolheu sua alma, e saiu correndo pelo lábios; e a mãe morreu.
A criança e o pai choraram sua morte muito tempo. No entanto, como o campo arrasado pela guerra, a vida do pai voltou a verdejar por entre os sulcos e ele desposou uma viúva com duas filhas. Embora a nova madrasta e suas filhas fossem gentis e sorrissem como damas, havia algo de corrosivo por trás dos sorrisos que o pai de Vasalisa não percebia.
Realmente, quando as três estavam sozinhas com Vasalisa, elas a atormentavam, forçavam-na a lhes servir de criada, mandavam-na cortar lenha para que sua pele delicada se ferisse. Elas a detestavam porque Vasalisa tinha uma doçura que não parecia deste mundo. Ela era também muito bonita. Seus seios eram fartos, enquanto os delas definhavam de maldade. Ela era solícita e não se queixava, enquanto a madrasta e as duas filhas eram, entre si mesmas, como ratos no monte de lixo à noite.
Um dia a madrasta e suas filhas simplesmente não conseguiam mais agüentar Vasalisa.
— Vamos... combinar de deixar o fogo se apagar e, então, vamos mandar Vasalisa entrar na floresta para ir pedir fogo para nossa lareira a Baba Yaga, a bruxa. E, quando ela chegar até Baba Yaga, bem, a velha irá matá-la e comê-la. — As três bateram palmas e guincharam como animais que vivem na escuridão.
Por isso, naquela noite, quando Vasalisa voltou para casa depois de catar lenha, a casa estava completamente às escuras. Ela ficou muito preocupada e falou com a madrasta.
— O que aconteceu? Como vamos fazer para cozinhar? O que vamos fazer para iluminar as trevas?
— Sua imbecil — reclamou a madrasta. — É claro que não temos fogo. E eu não posso sair para o bosque devido à minha idade. Minhas filhas não podem ir porque têm medo. Você é a única que tem condições de sair floresta adentro para encontrar Baba Yaga e conseguir dela uma brasa para acender nosso fogo de novo.
— Ora, está bem — respondeu Vasalisa inocente. — É o que vou fazer. — E foi mesmo. A floresta ia ficando cada i mais escura, e os gravetos estalavam sob seus pés, deixando assustada. Ela enfiou a mão bem fundo no bolso do avental e ali estava a boneca que a mãe ao morrer lhe havia dado.
— Só de tocar nessa boneca, já me sinto melhor — disse Vasalisa, acariciando a boneca no bolso.
— A cada bifurcação da estrada, Vasalisa enfiava a mão» bolso e consultava a boneca. "Bem, eu devo ir para a esquerda ou para direita?" A boneca respondia "Sim", "Não", "Para esse lado" ou "Para aquele lado". E Vasalisa dava à boneca um pouco de pão enquanto ia caminhando, seguindo o que sentia estar emanando da boneca.
De repente, um homem de branco num cavalo branco passou galopando, e o dia nasceu. Mais adiante, um homem de vermelho passou montado num cavalo vermelho, e o sol apareceu. Vasalisa caminhou e caminhou e, bem na hora em que estava chegando ao casebre de Baba Yaga, um cavaleiro vestido de negro passou trotando e entrou direto no casebre. Imediatamente fez-se noite. A cerca feita de caveiras e ossos ao redor da choupana começou a refulgir com um fogo interno de tal forma que a clareira ali na floresta ficou iluminada com uma luz espectral.
Ora, Baba Yaga era uma criatura muito temível. Ela viajava, não num coche, nem numa carruagem, mas num caldeirão com o formato de um gral que voava sozinho. Ela remava esse veículo com um remo que parecia um pilão e o tempo todo varria o rastro por onde passava com uma vassoura feita do cabelo de alguém morto há muito tempo.
E o caldeirão veio voando pelo céu, com o próprio cabelo sebento de Baba Yaga na esteira. Seu queixo comprido curvado para cima e seu longo nariz era curvado para baixo de modo que os dois se encontravam a meio caminho. Baba Yaga tinha um ínfimo cavanhaque branco e verrugas na pele adquiridas de seus contatos com sapos. Suas unhas manchadas de marrom eram grossas e estriadas como telhados, e tão compridas e recurvas que ela não conseguia fechar a mão.
Ainda mais estranha era a casa de Baba Yaga. Ela ficava em cima de enormes pernas de galinha, amarelas e escamosas, e andava de um lado para o outro sozinha. Ela às vezes girava e girava como uma bailarina em transe. As cavilhas nas portas e janelas eram feitas de dedos humanos, das mãos e dos pés e a tranca da porta da frente era um focinho com muitos dentes pontiagudos.
Vasalisa consultou sua boneca. "E essa casa que procuramos?" E a boneca, a seu modo, respondeu: "É, é essa a que procuramos." E antes que ela pudesse dar mais um passo. Baba Yaga no seu caldeirão desceu sobre Vasalisa, aos gritos.
— O que você quer?
— Vovó, vim apanhar fogo — respondeu a menina, estremecendo. — Está frio na minha casa... o meu pessoal vai morrer... preciso de fogo.
— Ah, sssssei — retrucou Baba Yaga, rabugenta. — Conheço você e o seu pessoal. Bem, criança inútil... você deixou o fogo se apagar. O que é muita imprudência. Além do mais, o que a fez pensar que eu lhe daria a chama?
— Porque eu estou pedindo — respondeu rápido Vasalisa depois de consultar a boneca.
— Você tem sorte — ronronou Baba Yaga. — Essa é a resposta certa.
E Vasalisa se sentiu com muita sorte por ter acertado a resposta. Baba Yaga, porém, a ameaçou.
— Não há a menor possibilidade de eu lhe dar o fogo antes de você fazer algum trabalho para mim. Se você realizar essas tarefas para mim, receberá o fogo. Se não... — E nesse ponto Vasalisa viu que os olhos de Baba Yaga de repente se transformavam em brasas. — Se não, minha filha, você morrerá.
E assim Baba Yaga entrou pesadamente no casebre, deitou-se na cama e mandou que Vasalisa lhe trouxesse a comida que estava no forno. No forno havia comida suficiente para dez pessoas, e a Yaga comeu tudo, deixando uma pequena migalha e um dedal de sopa para Vasalisa.
— Lave minha roupa, varra a casa e o quintal, prepare minha comida, separe o milho mofado do milho bom e certifique-se de que tudo está em ordem. Volto mais tarde para inspecionar seu trabalho. Se tudo não estiver pronto, você será meu banquete. — E com isso a Baba Yaga partiu voando no seu caldeirão com o nariz lhe servindo de biruta e o cabelo, de vela. E anoiteceu novamente.
Vasalisa voltou-se para a boneca assim que a Yaga se foi.
— O que vou fazer? Vou conseguir cumprir as tarefas a tempo? — A boneca disse que sim e recomendou que ela comesse algo e fosse dormir. Vasalisa deu algo de comer à boneca também e adormeceu.
Pela manhã, a boneca havia feito todo o trabalho, e só faltava preparar a refeição. À noite, a Yaga voltou e não encontrou nada por fazer. Satisfeita, de certo modo, mas irritada por não conseguir encontrar nenhuma falha, Baba Yaga zombou de Vasalisa.
— Você é uma menina de sorte. — Ela, então, convocou seus fiéis criados para moer o milho, e três pares de mãos apareceram em pleno ar e começaram a raspar e esmagar o milho. Os resíduos pairavam no ar como uma neve dourada. Finalmente, o serviço terminou, e Baba Yaga se sentou para comer. Comeu horas a fio e deu ordens a Vasalisa para que no dia seguinte limpasse a casa, varresse o quintal e lavasse a roupa.
— Naquele monte de estrume — disse a Yaga, apontando para um enorme monte de estrume no quintal — há muitas sementes de papoula, milhões de sementes de papoula. Amanhã quero encontrar um monte de sementes de papoula e um monte de estrume, completamente separados um do outro. Compreendeu?
— Meu Deus, como vou fazer isso? — exclamou Vasalisa, quase desmaiando.
— Não se preocupe, eu me encarrego — sussurrou a boneca, quando a menina enfiou a mão no bolso.
Naquela noite. Baba Yaga adormeceu roncando, e Vasalisa tentou catar as sementes de papoula do meio do estrume.
— Durma agora — disse-lhe a boneca, depois de algum tempo. — Tudo vai dar certo.
Mais uma vez, a boneca executou todas as tarefas e, quando a velha voltou, tudo estava pronto.
— Ora, ora! Que sorte a sua de conseguir acabar tudo! — disse Baba Yaga, falando sarcástica pelo nariz. Ela chamou seus fiéis criados para prensar o óleo das sementes, e novamente três pares de mãos apareceram e cumpriram a tarefa. Enquanto a Yaga estava besuntando os lábios na gordura; do cozido, Vasalisa ficou parada por perto.
— E aí, o que é que você está olhando? — perguntou Baba Yaga, de mau humor.
— Posso lhe fazer umas perguntas, vovó? — perguntou Vasalisa.
— Pergunte — ordenou a Yaga —, mas lembre-se, saber demais envelhece as pessoas antes do tempo.
Vasalisa perguntou quem era o homem de branco no cavalo branco.
— Ah — respondeu a Yaga, com carinho. — Esse primeiro é o meu Dia.
— E o homem de vermelho no cavalo vermelho?
— Ah, esse é o meu Sol Nascente.
— E o homem de negro no cavalo negro?
— Ah, sim, esse é o terceiro e ele é a minha Noite.
— Entendi — disse Vasalisa.
— Vamos, vamos, minha criança. Não quer me fazer mais perguntas? —
sugeriu a Yaga, manhosa. Vasalisa estava a ponto de perguntar sobre os pares de mãos que apareciam e desapareciam, mas a boneca começou a saltar dentro do bolso e, em vez disso, Vasalisa respondeu.
— Não, vovó. Como a senhora mesma diz, saber demais pode envelhecer a pessoa antes da hora.
— É — disse a Yaga, inclinando a cabeça como um passarinho —, você é muito ajuizada para a sua idade, menina. Como conseguiu isso?
— Foi a bênção da minha mãe — disse Vasalisa, com um sorriso.
— Bênção?! — guinchou Baba Yaga. — Bênção?! Não precisamos de bênção nenhuma aqui nesta casa. É melhor você procurar seu caminho, filha. — E foi empurrando Vasalisa para o lado de fora. — Vou lhe dizer uma coisa, menina. Olhe aqui! — Baba Yaga tirou uma caveira de olhos candentes da cerca e a enfiou numa vara. — Pronto! Leve esta caveira na vara até sua casa. Isso! Esse é o seu fogo. Não diga mais uma palavra sequer. Só vá embora.
Vasalisa ia agradecer à Yaga, mas a bonequinha no fundo do bolso começou a saltar para cima e para baixo, e Vasalisa percebeu que devia só apanhar o fogo e ir embora. Ela voltou correndo para casa, seguindo as curvas e voltas da estrada com a boneca lhe indicando o caminho. Era noite, e Vasalisa atravessou a floresta com a caveira numa vara, com o brilho do fogo saindo pelos buracos dos ouvidos, dos olhos, do nariz e da boca. De repente, ela sentiu medo dessa luz espectral e pensou em jogá-la fora, mas a caveira falou com ela, insistindo para que se acalmasse e prosseguisse para a casa da madrasta e das filhas.
Quando Vasalisa ia se aproximando da casa, a madrasta e suas filhas olharam pela janela e viram uma luz estranha que vinha dançando pela mata. Cada vez chegava mais perto. Elas não podiam imaginar o que aquilo seria. Já haviam concluído que a longa ausência de Vasalisa indicava que ela a essa altura estava morta, que seus ossos haviam sido carregados por animais, e que bom que ela havia desaparecido!
Vasalisa chegava cada vez mais perto de casa. E, quando a madrasta e suas filhas viram que era ela, correram na sua direção dizendo que estavam sem fogo desde que ela havia saído e que, por mais que tentassem acender um, ele sempre se extinguia.
Vasalisa entrou na casa, sentindo-se vitoriosa por ter sobrevivido à sua perigosa jornada e por ter trazido o fogo para casa. No entanto, a caveira na vara ficou observando cada movimento da madrasta e das duas filhas, queimando-as por dentro. Antes de amanhecer, ela havia reduzido a cinzas aquele trio perverso.
Mulheres Que Correm Com Os Lobos
Mitos e Histórias do Arquétipos da Mulher Selvagem
Clarissa Pinkola Estés
“Nesse drama de iniciação. Baba Yaga é a Mulher Selvagem sob o disfarce da bruxa. À semelhança do termo selvagem, o termo bruxa veio a ser compreendido como pejorativo, mas antigamente ele era uma designação dada às benzedeiras tanto jovens quanto velhas, sendo que a palavra witch (bruxa, em inglês) deriva do termo wit, que significa sábio. Isso, antes que as religiões monoteístas suplantassem as ...antigas religiões da Mãe Selvagem. De qualquer maneira, porém, a ogra, a bruxa, a natureza selvagem e quaisquer outras criaturas e aspectos que a cultura considera apavorantes nas psiques das mulheres são exatamente as bênçãos que elas mais precisam resgatar e trazer à superfície.”
Um outro conto da mesma autora que também norteará esse projeto, chama-se "La Loba, a Mulher Lobo".
Existe uma velha que vive num lugar oculto de que todos sabem, mas que poucos já viram. Como nos contos de fadas da Europa oriental, ela parece esperar que cheguem até ali pessoas que se perderam, que estão vagueando ou à procura de algo.
Ela é circunspecta, quase sempre cabeluda e invariavelmente gorda, e demonstra especialmente querer evitar a maioria das pessoas. Ela sabe... crocitar e cacarejar, apresentando geralmente mais sons animais do que humanos.
Dizem que ela vive entre os declives de granito decomposto no território dos índios tarahumara. Dizem que está enterrada na periferia de Phoenix perto de um poço. Dizem que foi vista viajando para o sul, para o Monte Alban3 num carro incendiado com a janela traseira arrancada. Dizem que fica parada na estrada perto de El Paso, que pega carona aleatoriamente com caminhoneiros até Morelia, México, ou que foi vista indo para a feira acima de Oaxaca, com galhos de lenha de estranhos formatos nas costas. Ela é conhecida por muitos nomes: La Huesera, a Mulher dos Ossos; La Trapera, a Trapeira; e La Loba, a Mulher-lobo.
O único trabalho de La Loba é o de recolher ossos. Sabe-se que ela recolhe e conserva especialmente o que corre o risco de se perder para o mundo. Sua caverna é cheia dos ossos de todos os tipos de criaturas do deserto: o veado, a cascavel, o corvo. Dizem, porém, que sua especialidade reside nos lobos.
Ela é circunspecta, quase sempre cabeluda e invariavelmente gorda, e demonstra especialmente querer evitar a maioria das pessoas. Ela sabe... crocitar e cacarejar, apresentando geralmente mais sons animais do que humanos.
Dizem que ela vive entre os declives de granito decomposto no território dos índios tarahumara. Dizem que está enterrada na periferia de Phoenix perto de um poço. Dizem que foi vista viajando para o sul, para o Monte Alban3 num carro incendiado com a janela traseira arrancada. Dizem que fica parada na estrada perto de El Paso, que pega carona aleatoriamente com caminhoneiros até Morelia, México, ou que foi vista indo para a feira acima de Oaxaca, com galhos de lenha de estranhos formatos nas costas. Ela é conhecida por muitos nomes: La Huesera, a Mulher dos Ossos; La Trapera, a Trapeira; e La Loba, a Mulher-lobo.
O único trabalho de La Loba é o de recolher ossos. Sabe-se que ela recolhe e conserva especialmente o que corre o risco de se perder para o mundo. Sua caverna é cheia dos ossos de todos os tipos de criaturas do deserto: o veado, a cascavel, o corvo. Dizem, porém, que sua especialidade reside nos lobos.
Ela se arrasta sorrateira e esquadrinha as montanhas e os arroyos, leitos secos de rios, à procura de ossos de lobos e, quando consegue reunir um esqueleto inteiro, quando o último osso está no lugar e a bela escultura branca da criatura está disposta à sua frente, ela senta junto ao fogo e pensa na canção que irá cantar.
Quando se decide, ela se levanta e aproxima-se da criatura, ergue seus braços sobre o esqueleto e começa a cantar. É aí que os ossos das costelas e das pernas do lobo começam a se forrar de carne, e que a criatura começa a se cobrir de pêlos. La Loba canta um pouco mais, e uma proporção maior da criatura ganha vida. Seu rabo forma uma curva para cima, forte e desgrenhado.
La Loba canta mais, e a criatura-lobo começa a respirar.
E La Loba ainda canta, com tanta intensidade que o chão do deserto estremece, e enquanto canta, o lobo abre os olhos, dá um salto e sai correndo pelo desfiladeiro.
Em algum ponto da corrida, quer pela velocidade, por atravessar um rio respingando água, quer pela incidência de um raio de sol ou de luar sobre seu flanco, o lobo de repente é transformado numa mulher que ri e corre livre na direção do horizonte.
Por isso, diz-se que, se você estiver perambulando pelo deserto, por volta do pôr-do-sol, e quem sabe esteja um pouco perdido, cansado, sem dúvida você tem sorte, porque La Loba pode simpatizar com você e lhe ensinar algo — algo da alma.
Butoh
Quando penso em trabalhar a essência do corpo e alma, logo surge o Butoh. Tive um ligeira iniciação há quase 10 anos atrás com um professor de Teatro, Silvestre Guedes que instigava-nos a todos com propostas do Butoh (a dança dos pés)
Quando penso em trabalhar a essência do corpo e alma, logo surge o Butoh. Tive um ligeira iniciação há quase 10 anos atrás com um professor de Teatro, Silvestre Guedes que instigava-nos a todos com propostas do Butoh (a dança dos pés)
Segundo João Roberto de Souza (João Butoh) nome de maior peso na América Latina quando o assunto é Butoh, o surgimento do butoh está ligado diretamente ao fato da história da Segunda Guerra Mundial o qual destruiu as cidades de Hiroshima e Nagasaki por meio do bombardeio pelos americanos com duas bombas nucleares, dando fim a seis meses de intenso bombardeio em 67 outras cidades japonesas. Este fato histórico é recheado de um montante de detalhes que levaram ao detonamento destas armas nucleares.
Em um discurso em rádio nacional em 15 de agosto, o Imperador Hirohito anunciou a rendição ao povo japonês, e esta foi a primeira vez que os japoneses ouviram a voz de seu Imperador. Com a rendição do Japão, assinada em 2 de setembro de 1945 pelo Ministro das Relações Exteriores do Japão Mamoru Shigemitsu a bordo do USS Missouri, o Japão entraria em um período conhecido como Ocupação do Japão, que se seguiu após a guerra, liderado em grande parte pelo General do Exército dos Estados Unidos Douglas MacArthur, a fim de revisar a constituição japonesa e desmilitarizar o Japão. A ocupação americana, com a assistência econômica e política para reconstrução do país, continuou até a década de 1950. As forças aliadas ordenaram ao Japão a abolição da Constituição Meiji e a promulgação da Constituição do Japão, e então renomearam o Império japonês para Japão, em 3 de maio de 1947. O país adotou um sistema político baseado no parlamentarismo, enquanto o Imperador passou a ter um status apenas simbólico.
Paralelo a isso, Tatsumi Hijikata, criava e desenvolvia ações teatrais, performáticas, na década de 40, em pleno período de guerra. Quando o Japão do pós-guerra no período da ocupação sofreu uma invasão cultural por parte do ocidente - o rock and roll, a coca-cola, o vestuário, foi um momento de ruptura ao pensamento de ocidentalização do país. Hijikata e seus seguidores: poetas, artistas plásticos, escritores, arquitetos se lançaram a espaços marginais e pelas ruas do submundo de Tóquio em manifesto que condenava a ocupação americana e a perda dos valores nacionalistas.
Já no final da década de 1950 quando também se findava a ocupação, essa forma marginal de expressão, como era considerada, já era conhecida como Ankoku Butoh, dança das trevas. Hoje simplesmente Butoh. Os sobreviventes do bombardeio sobre Hiroshima e Nagasaki são chamados de hibakusha, uma palavra japonesa que é traduzida literalmente por "pessoas afetadas por bomba". O sofrimento causado pelo bombardeamento foi a raiz do pacifismo japonês do pós-guerra, e foi também uma das pilastras a qual foi construída a estética do butoh. Os corpos decrépitos, a maquiagem melancólica e empalidecida, a ausência dos pelos, tudo lembra os hibakushas e as vítimas desta tragédia.
Em memória Judith Ferreira
Eu me lembro...
Das histórias contadas nas noites iluminadas pelos candeeiros,
do cheiro do querosene
das sombras de minhas mãos na parede. ...
- faz mal fazer sombra Cambito.
De pai embrenhado roça a dentro, plantando e colhendo o que comer e o que repartir com quem chegasse, ele é farturento.
Da força, coragem e valentia de mãe enfrentando sua sina desde os tempos de menina contada por ela nos causos onde meu palco era sua cama...o canto do lado dela era meu mundo.
Do medo que sempre tive de perdê-los ou que eles descessem cedo na estação para seguir viagem em outro plano,
e das tantas vezes que chorei engolindo a dor pra que eles não vissem.
do quanto eu os amei.
Ah! Como eu os amei e amo!
Do amor para além desta vida
Da falta dela
Da vida que há nele seguindo adiante
Dos sorrisos e cantigas que apeteciam a alma dela
Das memórias de vida que brotam feito cachoeira nos zóios miúdos de pai
De nós três em algum canto ouvindo os pios da mata
Eu me lembro...
Diário de Bordo de uma neta que é filha apaixonada.
01h10min.22 Jul/2017.
Camacã,BA
Sobre Vida-morte-vida
“Quando morre uma flor, nasce uma semente; quando uma semente morre, nasce uma planta. E a vida continua o seu caminho, mais forte do que a morte.”
Tagore
O Projeto- Tema: "Essência, vida-morte-vida e memória"
Justificativa
Diante de duras penas e um cruel sufocamento da essência humana, reconhecer a nossa essência, despertando-se para o que de precioso dentro em nós, compreendendo os processos individuais de vida-morte-vida, mantendo viva aquilo que a memória ama.
Experimentações realizadas para avançar na concepção da obra
O projeto se deu, através de três experimentações;
a primeira: uma pesquisa individual e silenciosa, como um mergulho em mim mesma na busca de elementos que aguçam minha essência e daquilo que acredito ser a própria essência.
a segunda experimentação: em sala, baseado nas imagens construídas e a partir do estudo feito da comunidade dos lobos em conjunto com as pesquisas sobre Butoh. O experimento foi realizado através de uma expressão do corpo utilizando música Butoca e o silêncio das falas. Uma pequena luz branca iluminou meu corpo em cena. (A pouca luz, impediu os registros)
a terceira experimentação: envolveu mais uma vez a turma presente, em grupos de três, os atores foram convidados a sentar-se com os olhos fechados e alguns comandos de concentração, ativarem suas memórias. (abaixo na legenda da terceira foto, a descrição do experimento)
Ativando a memória a partir de suas histórias e do outro.
Os atores sentam-se em três e com os olhos fechados e espontaneamente começam a contar suas histórias. Em momentos indeterminados e aleatoriamente, podem ser interrompidos com outras memórias. Observa-se que as histórias contadas assemelham-se e passeiam entre si. A maioria das memórias contadas, são interrompidas por outras que chegam de quem está sentado ao lado, deixando-as em sua maioria sem conclusão, dando lugar a uma nova história, o que gera ao espectador o conflito da curiosidade em querer saber o final mas ao mesmo tempo uma doce ativação de sua própria memória.
Observações finais
O projeto final resultou em uma Contação de História seguida de Dança Circular acompanhada do poema " SAMA- O Poeta Embriagado de Deus", e contou com a participação de todos os integrantes da Turma do Ateliê em Arte Comunidades.
Uma lamparina com pouco gás, persistia-se acesa com sua pouca força, assim como nossa essência que lutam para se manterem vivas diante as atrocidades que cometemos com nós mesmos, ao permitir que "maus encontros" dentro das comunidades quais estamos inseridos nos façam esquecer do que somos e do que amamos. Além disso a performance buscou proporcionar uma comunhão dentro da comunidade que foi esse Ateliê.
O Ateliê em Artes e Comunidades sempre foi o Componente Curricular que despertou meu desejo em experimentá-lo. Agradeço imensamente ao Professor Martin Domecq, que nos fez mergulhar em profundidade no conteúdo das aulas e suas provocações. Agradeço a Turma do Ateliê por toda disponibilidade, pelos sorrisos e vivências compartilhadas e por todas as Ins-Pirações.
Em especial, agradeço ao colega-amigo, grande músico, artista e poeta de almas Anderson Ribeiro, que em sua bondade acompanhou todo o processo de criação deste projeto.
Saúdo e Reverencio as Forças da Floresta Serra Bonita, que a cada encontro me reconectam à minha essência.
Saúdo e Reverencio as Forças da Floresta Serra Bonita, que a cada encontro me reconectam à minha essência.
Viemos girando do nada,
espalhando estrelas como pó.
As estrelas puseram-se em círculo
e nós no centro dançamos com elas.
Como a pedra do moinho,
em torno de Deus
gira a roda do céu.
Segura um raio dessa roda
e terás a mão decepada.
Girando e girando
essa roda dissolve
todo e qualquer apego.
Não estivesse apaixonada,
ela mesma gritaria - basta!
Até quando há de seguir esse giro?
Cada átomo gira desnorteado,
mendigos circulam entre as mesas,
cães rondam um pedaço de carne,
o amante gira em torno
do seu próprio coração.
Envergonhado ante tanta beleza
giro ao redor da minha vergonha.
................................................
Ouve a música do samá.
Vem unir-te ao som dos tambores!
Aqui celebramos:
somos todos Al-Hallaj dizendo: “Eu sou a Verdade!”
Em êxtase estamos.
Embriagados sim, mas de um vinho
que não se colhe na videira;
O que quer que pensem de nós
em nada parecerá com o que somos.
Giramos e giramos em êxtase.
Esta é a noite do sama
Há luz agora.
- Luz ! Luz!
Eis o amor verdadeiro
que diz a mente: adeus.
Este é o dia do adeus.
- Adeus ! Adeus !
Todo coração que arde
nesta noite
é amigo da música.
Ardendo por teus lábios
meu coração
transborda de minha boca.
Silêncio!
És feito de pensamento, afeto e paixão.
O que resta é nada
além de carne e ossos.
Por que nos falam
de templos de oração,
de atos piedosos?
Somos o caçador e a caça, Outono e primavera,
Noite e dia,
O Visível e o Invisível.
Somos o tesouro do espírito.
Somos a alma do mundo,
livres do peso que vergasta o corpo.
Prisioneiros não somos
do tempo nem do espaço
nem mesmo da terra que pisamos.
No amor fomos gerados.
No amor nascemos
(Jalal ud-Din Rumi 1207-1273)
espalhando estrelas como pó.
As estrelas puseram-se em círculo
e nós no centro dançamos com elas.
Como a pedra do moinho,
em torno de Deus
gira a roda do céu.
Segura um raio dessa roda
e terás a mão decepada.
Girando e girando
essa roda dissolve
todo e qualquer apego.
Não estivesse apaixonada,
ela mesma gritaria - basta!
Até quando há de seguir esse giro?
Cada átomo gira desnorteado,
mendigos circulam entre as mesas,
cães rondam um pedaço de carne,
o amante gira em torno
do seu próprio coração.
Envergonhado ante tanta beleza
giro ao redor da minha vergonha.
................................................
Ouve a música do samá.
Vem unir-te ao som dos tambores!
Aqui celebramos:
somos todos Al-Hallaj dizendo: “Eu sou a Verdade!”
Em êxtase estamos.
Embriagados sim, mas de um vinho
que não se colhe na videira;
O que quer que pensem de nós
em nada parecerá com o que somos.
Giramos e giramos em êxtase.
Esta é a noite do sama
Há luz agora.
- Luz ! Luz!
Eis o amor verdadeiro
que diz a mente: adeus.
Este é o dia do adeus.
- Adeus ! Adeus !
Todo coração que arde
nesta noite
é amigo da música.
Ardendo por teus lábios
meu coração
transborda de minha boca.
Silêncio!
És feito de pensamento, afeto e paixão.
O que resta é nada
além de carne e ossos.
Por que nos falam
de templos de oração,
de atos piedosos?
Somos o caçador e a caça, Outono e primavera,
Noite e dia,
O Visível e o Invisível.
Somos o tesouro do espírito.
Somos a alma do mundo,
livres do peso que vergasta o corpo.
Prisioneiros não somos
do tempo nem do espaço
nem mesmo da terra que pisamos.
No amor fomos gerados.
No amor nascemos
(Jalal ud-Din Rumi 1207-1273)
Não sei se ajudará, mas dê uma olhadinha na "morfologia do conto maravilhoso", se não achar no google, eu tenho.
ResponderExcluirPreciosa contribuição. Muito Grata!
ExcluirMaravilhoso o tema do trabalho...como será algo corporal no aguardo da música...conte comigo para a execução...
ResponderExcluirSaber que posso contar com você me enche de estímulos. Gratidão!!!
ExcluirMuito bom conhecer mais um pouco sobre o Butoh, sua pesquisa foi bem proveitosa para mim. Curti bastante.
ResponderExcluirNo seu experimento achei muito criativo, curioso, diferente e me trouxe algumas emoções e sensações (medo, tristeza, coragem e curiosidade) . Acho que pode melhorar só a questão da iluminação, gosto da luz baixa e o tom sombrio, mas tinha momento e eu não conseguia vê a personagem por conta da falta de um foco de luz, não sei se era essa a intenção.
Gostei bastante da performance.
Obrigada, Claudio. Realmente preciso melhorar a iluminação. Até tentei com um foco de luz branca mas ainda faltou.
ExcluirMul[obo]her ***** Tua experimentação, com cheiros, sombras, ruídos...O instinto do medo, da vida e da morte. Bela representação. Consegue imaginar incorporando projeções, talco em pó, itens nesse sentido para potencializar tua obra?
ResponderExcluirÁllan, que bom teres notado o cheiro. Tem uma obra de um artista que me inspira essas projeções mas não sei como fazer, podes me ajudar nisso? "Um ensaio do fotógrafo francês Ludovic Florent ganhou uma atmosfera encantada ao retratar bailarinas nuas dançando em um "pó de estrela". Transpondo os limites dramáticos impostos pelo próprio corpo, o pó, que na verdade é areia, funciona como uma extensão da arte e cria a sensação de harmonia " Se puderes dá uma olhadinha nesse blogger e veja se é o que pensas. Agradeço demais suas contribuições. http://noticias.bol.uol.com.br/fotos/entretenimento/2016/04/17/fotografo-frances-cria-anjos-de-areia.htm
ExcluirCamila, parabéns e gratidão por esse belo percurso que você está nos propondo por seu imaginário...
ResponderExcluirObrigada por tudo professor! Quando eu entrei na Universidade e soube dos seus Ateliês sonhava em participar. Não sabia onde me levaria as propostas mas desejava estar ali. Gratidão por tudo!!!
Excluirmeu sentimentos pela perda de sua vó, ela estará orgulhosa e feliz acompanhando suas criações... bela homenagem suas palavras... muito tocante... meu pai tb contava histórias para nós...são experiências que nunca se esquecem...
ResponderExcluirObrigada por me permitir trazer essas memórias. Seu pai e minha vó devem estar agora no mundo dos encantados de onde surgem as histórias de outros tempos. Um abraço forte e mais uma vez Obrigada por tudo!
ExcluirOntem na sua apresentação final , foi algo lindo. Vc me levou a uma outra dimensão com aquela historia da mulher loba e com a dança circula. Foi fantástico.
ResponderExcluirClaudio, obrigada por tudo! Uma pena não ter visto teu projeto final. Fico feliz que tenhas gostado, obrigada por se dispor a participar. Aho!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirApresentação excelente......adorei mesmo..........acompanhei todas as suas dúvidas durante o processo e fez algo com muita competência.....eu embarquei na história e no clima.........sensacional.......
ResponderExcluirGratidão por tudo Anderson! Você verdadeiramente acompanhou todos os processos e contribuiu generosamente para que o mesmo fosse realizado. Obrigada pelas horas dedicas a preparação da música final, aos estímulos, força e ânimo!
ExcluirObrigada! Pelos momentos que me revitalizou em memória.
ResponderExcluirObrigada a você por tudo. Apesar de não ter ficado para o projeto final, nos divertimos muito com a rede.
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